Papel moeda, privacidade e inclusão social

O papel moeda vai acabar! Ou, ao menos, é que temos ouvido nos últimos tempos. Mas o exercício de “futurologia” esconde uma pergunta relevante: é bom que o papel moeda acabe? Essa discussão foi objeto de um relatório do Coin Center, grupo de defesa de políticas baseado em Washington (EUA) que defende que as transações em papel moeda são fundamentais para a liberdade dos cidadãos.

O uso de moeda corrente permite privacidade. E uma democracia exige respeito à privacidade de seus cidadãos. Além disso, o uso de papel moeda também é inclusivo. Pesquisa do Instituto Locomotiva, realizada em 2019, mostra que 45 milhões de brasileiros são desbancarizados – isto é, não possuem conta bancária. Esse grupo representa 29% da população adulta do Brasil, sendo que as mulheres são maioria (59% do total). Sem dinheiro em espécie, 45 milhões seriam excluídos da sociedade de consumo no nosso país.

Outro problema que existe é a dúvida: uma vez extinto o dinheiro, para quanto subiria a taxa cobrada pelas instituições financeiras que intermediam meios de pagamento? O poder que essas empresas teriam sobre a vida do cidadão é incalculável.

Por outro lado, há quem argumente que os roubos vão acabar. Será? Reportagem da Folha de S. Paulo revela o aumento de furtos de celulares em São Paulo. Os criminosos, em vez de subtraírem dinheiro em espécie, fazem compras volumosas em sites e aplicativos de comida e mobilidade, entre outros, utilizando o aparelho da vítima. 

A jornalista Cristina De Luca, em sua coluna do UOL, faz um alerta para um mundo sem dinheiro:

  • As fraudes financeiras digitais têm aumentado acentuadamente.
  • Panes ou ataques digitais podem inviabilizar o acesso ao dinheiro. Neste Ano Novo, milhões de ingleses ficaram sem acesso às suas contas em pleno feriado bancário.
  • A democratização digital não é uma verdade absoluta. Classes sociais mais vulneráveis não têm acesso a um computador ou smartphone para fazer suas transações.

Países que vivenciaram períodos econômicos e políticos conturbados no passado, como a Alemanha, oferecem maior resistência na aprovação de medidas que restringem a circulação de dinheiro físico. O país é uma das principais economias do mundo, mas seus cidadãos defendem a liberdade de terem recursos em espécie e que não sejam controlados unicamente por uma instituição financeira ou governo.

Imagem de Steve Buissinne

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